sábado, 2 de agosto de 2014

As malhas nas eiras, em tempos passados



I
No dia antes
Toca já a trabalhar
Preparar a eira
Para o centeio se malhar

II
A malha era feita
Com muitos homens a bater
Era feita só num dia
Era dia de sofrer

III
Era dia de alegria
Dia de animação
Era dia de muito trabalho
Mas também do garrafão

IV
O dia da malha
Juntava muita gente
Homens mulheres e raparigas
Sempre alegres e contentes

V
Fortes e boas
Diziam os homens a correr
Para trás e para a frente
Mas com força a bater

VI
Chegavam ao fim da eira
Iam descansar
As mulheres tiravam a palha
Outros homens iam a atar

VII
Os homens que malhão
À sombra bem fresquinha
Vão comendo azeitonas
E bebendo umas pinguinhas

VIII
Acabaram as mulheres
De limpar a eira
Voltam os malhadores
Estender o pão na brincadeira

VIX
Este trabalho é feito
A brincar e a correr
Tem de ser assim
Não há tempo a perder

X
Chega ao meio dia
É hora do jantar
É um grande momento
Para toda a gente descansar

XI
A mesa está pronta
Hoje é dia de trabalho e festa
Comida à fartura e boa
Para toda esta orquestra

XII
Regressão à eira
Todos a trabalhar
Todos com coragem
Para a malha terminar

XIII
Começam os homens a bater
O centeio está quentinho
O centeio salta melhor
Com um copinho de vinho

XIV
É sempre assim
Até a malha terminar
Só no fim do trabalho
Há tempo para descansar

XV
Mulheres e raparigas
Andavam sempre a correr
A transportar a palha
Antes do anoitecer

XVI
Havia homens no palheiro
Para assentar a palha
Era sempre assim
No dia da malha

XVII
Como todos vêem
Não era brincadeira
Quando não havia vento
Ficava o centeio na eira

XVIII
Quando este chegava
Deitavam o grão ao ar
Com pás de madeira
Para a munha voar

XIX
 As arcas de madeira
Que serviam de celeiro
Deste grão comiam
Barbeiro e moleiro

XX
Estes celeiros
De grande tamanho
Toda a gente tinha neles
Pão para todo o ano

XXI
Os forneiros e patrões
Comiam também
Do pão tão gostoso
Que cozia a minha mãe

XXII
Foi nos anos cinquenta e seis cinquenta e sete
Apareceram máquinas para malhar
Era sempre à pressa
Não havia tempo para descansar

XXIII
Com estas máquinas
Toda a gente corria
Faziam-se várias malhas
No mesmo dia

XXIV
Mais tarde apareceram
Novas máquinas a ceifar
Estas cortavam e malhavam
Deixavam a palhar por atar

XXV
Novas máquinas vieram
Com mais perfeição
Faziam todo o trabalho
Era só ensacar o grão


José Manuel Lourenço




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